Saturday, July 19, 2014

O PIUIII DA MINHA MEMÓRIA




Viajei de trem, com meus pais, de Santo Anastácio a São Paulo. Adorei os bancos de madeira, a cama do vagão leito, o barulhinho que embalava o sono e o café da manhã. Mas isso ficou na minha memória, pois as viagens de trens de passageiros quase não existem mais, no nosso Estado de São Paulo.
Décadas depois, e já formada pela PUC em Jornalismo, tive a oportunidade de conhecer o Festival de Inverno de Paranapiacaba, antiga vila de ferroviários ingleses da São Paulo Railway, quando trabalhava como jornalista contratada da Refinaria de Capuava (RECAP) da Petrobras, em Mauá – SP, logo depois de Santo André, e antes de Rio Grande da Serra, no caminho de Paranapiacaba. A vila fica no limite da Serra do Mar, no alto, pouco antes da descida para Santos.
Em 2014, adoraria voltar ao Festival de Inverno de Paranapiacaba por trem, saindo de Presidente Prudente. Mas isso não é mais possível. Perdeu o nosso Estado de São Paulo, perderam paulistas, perdeu o Brasil. Espero que o transporte ferroviário volte à ativa e com a força e cuidado que merece, por conta da sua imensa potencialidade.
Na Suíça, no Japão, nos Estados Unidos e em tantos outros países, a ferrovia é estratégica para negócios e pessoas. Pequenos roteiros, ou grandes viagens (“coast to coast”, como se diz na América, por exemplo) acontecem todos os dias.
E nós estamos parados, toneladas de soja e produção recorde de grãos só podem chegar aos portos pelas rodovias. Atravessar o Brasil, de Mato Grosso ao porto de Santos, por exemplo, é impraticável. Nosso país é grande demais, as distâncias são continentais e o caminho seria mais curto, ou pelo menos mais barato, se fosse feito por hidrovias e ferrovias.
O represamento de rios, como o meu conhecido “Paranazão” (como é chamado aqui na região de Prudente o Rio Paraná), lá em Presidente Epitácio (ou “Porto” Epitácio), não se justificou com a implantação de um sistema eficaz de transporte. Vez em quando, num domingo, é possível almoçar numa embarcação, um navio, que passa pela cidade e faz um trajeto até o meio da tarde. E é só isso, além do turismo de pesca.
Como eu queria ver, ainda nesta vida, os trens apitando de longe, o movimento nas plataformas das estações que viraram de tudo – tem museu, em Santo Anastácio; e posto do Procon em Prudente, só para ilustrar o argumento. 
Ver navios, embarcações de tamanhos e formas diferentes, servindo às cargas e às pessoas. Opções de turismo para todos(as) que quisessem conhecer melhor o nosso Estado de São Paulo.
Mais alternativas de transporte, para que as pessoas tivessem mais escolhas, preços variados, serviços mais seguros e mais baratos.
Eu adoraria ver isso, mas não acredito que possa acontecer na minha geração. Nem sei se meus sobrinhos, João Vitor e Vitória Emanuelle, poderão conhecer trens e navios de transporte em seu próprio estado, em seu País.
Por isso, esse meu sonho tem um tom melancólico, de desesperança, que em nada me agrada. Mas é real.
Em 2014, no fim de semana de início do Festival de Paranapiacaba, no meu estado, evento do qual me recordo com saudades, não posso optar em visitar a Vila de Paranapiacaba de trem, partindo de Presidente Prudente.
Não há mais trem.
Só resta a minha memória  e este texto baseado em lembranças e emoções.
Sumiu no tempo aquele som de Piuiii.......



1 Comments:

Blogger roBerto said...

Pppiiiiiiiiiuuuuuuuiiiiiiiiiiiiiii

9:05 AM  

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