Projeto MÚSICA PARA OS OLHOS promete
agitar produção cultural brasileira em 2006
A produtora cultural MônicaHernandes conta como esta iniciativa integrará artes plásticas, música
instrumental, vídeo arte, intervenções urbanas com a história dos carroceiros e
catadores de lixo das metrópoles. MÚSICA PARA OS OLHOS será uma explosão de
arte visual, que deve percorrer nove estados brasileiros em 2006.
Mônica Hernandes é produtora
cultural, curadora de arte, marchand e coordenadora de exposições como
"Música e Cor", que exibiu os quadros do artista plástico Farago em 2005,
no Cultural Blue Life, em São Paulo, Brasil. A primeira mostra individual
estimulou a veia criativa de Farago e Mônica. Eles continuam juntos no projeto
MÚSICA PARA OS OLHOS que, em 2006, deve percorrer nove estados brasileiros com
uma interessante proposta de arte visual. A idéia é integrar artes plásticas
(com uma mostra de cerca de 25 quadros), música instrumental (CD de jazz e
blues) e vídeoarte com intervenções urbanas realizadas por artistas,
carroceiros e catadores de lixo. Mônica Hernandes inspirou dois textos da
colunista Cris Campos, do Brasil: a crônica "Casa Azul" e uma
entrevista exclusiva, que você acompanha nos links abaixo:
CRÔNICA
Casa azul
Onde a grande avenida vira a
esquina e finge ser uma pequena rua, ela se instalou. Os sobrados fazem fila,
como no Pelourinho de Salvador. Mas são tímidos, pastéis. O número 617 não;
talvez pense que é baiano. Todo lindo. É de um azul escuro tão profundo que
chega a dar saudade de tudo que é bom e que passou, passa ou passará nesta
vida.
Da porta na varandinha, ela abre
o sorriso. Camisa vermelha, decotão, brincos de cristal rosa cheios de luz.
Cabelos cacheados caídos aos pés da gravidade. Colo farto de mãe - do Bruno, um
"artistinha" de quatro anos. Filho de Wilson, pai músico e de Mônica. Morena e Mãe de mais
gente. E de todas as cores das sete faixas do véu de Íris.
O Sol que reflete na casa Mágica. Lá do céu, ele sabe que debaixo
das telhas tá cheio de quadros, encostados nas paredes, no chão, no ar.
Por enquanto, são doze artistas
que Mônica acomoda no coração e sob
os olhos castanhos. Debaixo das suas asas, só não entra quem é bobo. Ou tem
medo de fazer arte. Ou não sabe sorrir alto, escancarado, com a roupa tingida
de tinta. Ou pensa que a arte não é humana, não está para esta subdesenvolvida
vida. Tem que esconder. Quando "arte é para ser vista", diz Mônica.
Ela sabe, desde pequena, que arte
é vida. Porque Mônica Hernandes é Marchand,
assessora de artistas, curadora de arte, criadora de casos, fomentadora de
estórias.
Uma arteira artista, babá de
artistas no Brasil, que dá tchau do sobrado azul da rua que quebra à direita.
Aquela ruazinha que faz reverência ao grande parque verde que lhe emprestou o
nome: Ibirapuera.
No meio de São Paulo, encontrar
Mônica é como mergulhar num quadro colorido, tropical, caliente. E achar, no
embaçado expressionismo poluído da realidade, uma flor brasileira da metrópole.
Nítida. Clara. Simples. Mônica Hernandes.
ENTREVISTA
Menina arteira
Com voz bonita e cercada por
quadros e objetos de arte, Mônica Hernandes sentou-se na mesa, de frente para
uma janela escancarada ao céu de outono. Azul. Só azul. Acomodada nesta
moldura, como uma Maddona de verdade, ela contou a história da primeira
exposição de Farago e falou, com exclusividade pra o Bons Ventos, sobre um
projeto maior, MÚSICA PARA OS OLHOS, que florescerá em 2006. Assim:
Mônica Hernandes - "MÚSICA E COR foi a primeira exposição
individual do Farago. Nós temos um projeto, para o ano de 2006, que se chama MÚSICA PARA OS OLHOS, que é exatamente
retratar, através do trabalho do Farago, interagir com a música e com a própria
composição visual.
Itinerante. Ele já está
preparando. Na verdade, essa Música e
Cor foi uma premier do que vai
ser o projeto todo. E a gente quer colocar em nove estados. Então, seria São
Paulo, Paraná (Curitiba), Minas Gerais (Belo Horizonte), Distrito Federal
(Brasília), Rio de Janeiro, Santa Catarina. E tem um CD.
Música
para os olhos está muito voltado para o jazz. Jazz e blues. E até para
dismistificar um pouco, no Brasil, a coisa da música instrumental também. E aí
tem um CD de jazz e mais toda exposição, que tem em torno de vinte e cinco obras.
O blues é uma delícia e as
pessoas têm uma certa reticência. Essa é a idéia. E está linda a exposição. Tem
camisetas, brindes promocionais. Vai ter todo um trabalho de assessoria de
imprensa para tudo isso. Então, eu acho que são os dois trabalhos principais do
Farago mesmo.
Quando eu era coordenadora
cultural, o Farago veio e disse:
-
Preciso te apresentar um projeto que eu tenho.
Eu falava:
-
Puxa vida, ele fala e não me apresenta.
Até que um dia, eu disse:
-
Farago, eu preciso saber, para eu poder encaminhar
a sua carreira, eu preciso saber.
Ele falou:
-
Eu tenho dúvidas da minha linha de trabalho.
Eu falei:
- Então, vamos lá.
E marcamos uma reunião. Quando
ele me mostrou, eu virei e falei:
-
Essa é a sua linha de trabalho. Você vai crescer
muito, por estes traços gestuais mesmo. Ele é mais solto.
E eu falei:
-
Pega a música e vai desenvolvendo o projeto.
Então, eu peguei um filho.
No dia da exposição, ele estava
muito feliz.
(Nota: o vernissage da primeira exposição do
Farago aconteceu na noite de 04 de maio de 2005, no Cultural Blue Life, de São
Paulo, Brasil.)
Inclusive essa já é uma segunda
fase do trabalho, em que eu vejo o crescimento dele. Muito mais solto. Então,
as pessoas que acompanharam lá atrás, vieram conversar comigo:
-
Mônica, que amadurecimento de trabalho!
Isso é muito legal. Porque aí
você vai vendo o artista amadurecendo mesmo. Porque isso eu já tinha visto lá
atrás. Eu falei:
-
Farago, daqui um tempo você vai estar muito mais
solto, a proposta vai estar redonda.
E eu já senti isso. Para mim, naquele
dia estava nascendo um filho. E as pessoas percebendo já uma evolução de
trabalho.
Ele está muito maduro, por ser um
artista jovem, é a primeira exposição individual, mas ele tem projetos muito
bacanas.
E vai ter um outro, que a gente
vai realizar que é uma intervenção urbana e o Farago vai estrar trabalhando a
parte de artes plásticas. É um projeto já mais arrojado, em que ele vai estar
se mostrando mesmo para a cidade. Mais contemporânea a proposta. Tem um cunho
social, que é com os carroeiros, os catadores de lixo. Então, essa proposta vai
estar muito bacana também."
(Nota: O curta-metragem
brasileiro Zagati conta a história de um catador de papel de São Paulo,
José Luiz Zagati, que sobreviveu décadas da sucata, do papel, do papelão e de
filmes de cinema que resgatou do abandono no lixo. Não por acaso, um dos
diretores do filme, Nereu Cerdeira, participará do projeto MÚSICA PARA OS
OLHOS.)
E aí, então, a exposição
aconteceu lá no Blue Life, no andar superior. E a gente vai trabalhando, para
que as empresas também conheçam o trabalho dos artistas, principalmente do
Farago que tem esta proposta. Estamos na fase de captação de patrocínio,
justamente para este projeto MÚSICA PARA
OS OLHOS acontecer em 2006."
São Paulo, Junho de
2005
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