“Achados e Perdidos”, bem mais que uma viagem
O longa-metragem “Achados e Perdidos”, dirigido por José
Joffily, é uma adaptação do romance policial de Luiz Alfredo Garcia-Roza.
Também é um mergulho na alma humana, uma desafiadora viagem ao escuro, de mãos
dadas com Antônio Fagundes (Vieira, delegado aposentado), Zezé polessa (Magali,
prostituta e amante de Vieira) e Juliana Knust, que debuta no cinema na pele da
jovem prostituta Flor. O filme tem estréia nacional no dia 28 de abril
de 2006 e, se você atracar neste porto, beba as falas das personagens para
degustar melhor sua pipoca. O gosto é muito bom.
Porque o misterioso assassinato de Magali, em Copacabana,
revela, aos poucos, algumas mazelas humanas. A dificuldade das relações
amorosa
O diretor Joffily diz, no texto “O filme”, de Agosto de
2005, que “realizar um filme de longa-metragem é como fazer uma longa viagem”.
Após cinco anos de trabalho, com “60 pessoas na equipe e 15 atores entre
participações especiais e elenco de apoio”, afirma que “valeu a espera” e que o
“diário de bordo dessa viagem brevemente estará nos cinemas para entreter o
público”.
O site oficial do filme é o
www.achadoseperdidosfilme.com.br.
Falas em 12 páginas
Cris Campos
“Achados e Perdidos” é um grito sufocado, quase sem
forças, no escuro. Voz da sobrevivência brasileira que, apesar de tudo,
continua e continua e continua, nem que seja no grito e no berro. Na cabine que
a Imagem Filmes realizou em 6 de abril, no Kinoplex Itaim, em São Paulo, pouco
antes da coletiva com o diretor e os atores do filme, anotamos algumas falas,
no escuro do cinema. Doze páginas, frente e verso. Um jeito possível de
assistir a este filme, também muito bem escrito.
Vieira: “Me perdoa, Magali! A gente saiu, eu bebi e
apaguei. Você nunca brigou com sua mulher? A gente ia casar, porra. Eu gostava
dela. Quis morrer, mas a verdade é que eu não tinha coragem de me matar. Você
consegue me entender, Magali? Consegue me perdoar? Trinta anos arriscando a
cara na polícia. Você é uma parte da minha vida que eu quero esquecer. Um
matador nunca deixa de ser um matador. Ta no sangue. Eu quero casar com você.
Todo que eu tenho; é tudo seu. Eu Não quero ir para a cadeia. Ficou louco?
Matar a mulher pra quê? Merda! (antes de atirar na criança). E se todos que a
gente matou não eram bandidos? Vou embora hoje mesmo. Agora que eu to começando
a entender tudo. To te devendo essa. Eu não vou mais matar ninguém. Eu vou
cuidar desse caso; quem fez isso vai sofrer muito. Preciso tomar um banho; to
me sentindo podre. Banho sentado em banquinho é muita humilhação. Os homens
deviam implorar de joelhos para ver você nua, na frente deles. Eu não tinha
vida pessoal. Larguei tudo pela carreira. Ela foi morta; é bem diferente. Mas o
problema não é só apagar o procurador. Casa comigo? A gente foge. Me perdoa,
Magali? E aí surgiu a Flor. Mas ela ninguém vai levar. Adeus, Magali. Deus não
existe. Uero ficar livre até o julgamento. No final das contas, a vida é
somente isso: querer.”
Magali: “Vocês homens só pensam na porra desse pau.
Mulher gosta mesmo é de carinho. Tem os grandes, os pequenos; no final, fica
tudo igual. É no toque que um homem faz a diferença. Ainda mais com uma mão
gostosa como a sua. Esse dinheiro tem a ver com aquele deputado. Não tem que
procurar ajuda, que procurar a polícia? Você vai acabar na cadeia, ou morto. Eu
não quero sofrer. Vai embora daqui, vai embora, leva o seu dinheiro. Eu quero
você, mas eu quero vivo. Tô com medo, Flor, que ele faça uma merda e que ferrem
com ele. Pena que na roça não tem praia; mas não se pode ter tudo. Muito
gananciosinha pro meu gosto. Se veste e vai embora.”
Flor: “Oi, Vieira. Não lembra de mim? Perdi a minha
amiga. A polícia está cagando para o que acontece com a gente. Quer subir?
Magali falava que tinha que cuidar de você o tempo todo. Aquela ali estava
mesmo apaixonada. Magali tinha uma dívida de gratidão com você. Agora, a dívida
é minha. Eu vou cuidar de você. Não vou ser puta pra sempre, não senhor. Não
faz besteira. Promete! Não quero te perder. Bem que Magali dizia que tu era um
cavalero. Boa noite, meu cavalheiro. Posso tirar a roupa? Cê nunca
casou? Não fico mais aqui. Tô com medo, Vieira. Não quero morrer igual a
Magali. Eu ia adorara morar numa casa enorme, com piscina. Que brincadeira é
essa, Vieira? Abaixa essa arma, pelo amor de Deus. Foi acidente. Foi por causa
do dinheiro, sim.”
Monteiro: “Nós éramos os melhores; não dava trégua
para a bandidagem. Qual é, Vieira. Regulamento. Sem testemunhas, pó. To, leva
(a mala de dinheiro); você vai precisar. Pega, cai fora, cai fora, cai fora.
Você me deve isso. Eu salvei a sua vida, Vieria. Tá na hora de você retribuir.
Deixa de ser teimoso, Vieira. Você está enrrascado e eu posso te ajudar. Quem
já matou uma vez, consegue matar sempre. Isso a gente aprendeu a fazer e bem.
Eu te arrumo uma identidade, um passaporte e uma vida em Miami. Eu devia ter
deixado o juiz te matar.”
Juiz: “Aquilo foi um acidente de trabalho. Você foi
um bom soldado. Ajudou muito a nossa cruzada, as perdeu a fé.”
Vanessa: “Pior quando tem cara de anjo e nome de
flor.”
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