Sunday, July 20, 2014

PUTZ, EM QUATRO LETRINHAS CABE UM MUNDO!

Sempre ouvi e usei a gíria “puts”, que descobri que é grafada com “z”, então corrijo aqui, na mente e no teclado este “putz”. Qualquer situação inusitada, de espanto ou admiração, ela me saía da boca quase que automaticamente. Raras vezes, acompanhada do “grila” “putz grila” - que também já vi escrita de forma unida, em uma palavra única e até com o “o”, em “putz grilo”.
Esses dias, a amiga Mônica Delicato teclou “Putz. Não faço check-in com Luanna e Andresa Delicato desde Maio”, lá de Portugal. Comentei “Adoro essa gíria. Sempre falo Putz!, ou Putz Grila!”.  Mônica respondeu “Achei estranho mas foi da aplicação lascar essa”.
Aí percebi que a gíria ganhou mais significados, pois “lascar essa eu não conhecia”. Não só está viva, para meu alívio, como cresceu e gerou descendentes, tem novas possibilidades. Por isso, neste café de domingo, gasto latim para falar desta velha amiga e aliada de nossa Língua Portuguesa, a palavrinha “Putz”, que tem só quatro letrinhas – três consoantes (p,t e z) e uma única vogal (u). E que é discriminada, pois não consta dos dicionários formais da nossa valorosa Norma Culta. Quanto a isto, protesto já.
Putz é da fala, da norma não “(in)culta” mas informal, coloquial. Isso me alegrou o coração. Porque a língua falada sempre chega antes, respira mais forte, muda e se transforma a todo instante. Identifiquei-me com essas quatro letras porque gosto de mudar móveis do lugar, de passear por lugares novos. Não sou de ir ao trabalho pelo mesmo caminho todos os dias, nem de só usar esmalte pastel, ou só vermelho. Mudança é coisa que me agrada, atrai. Até de casa, de cidade, de país.
Uma vez li que a gíria “Putz” era da década de 1970 e identificava pessoas que a aplicavam pela idade, já que jovens de agora têm novas gírias. Confesso que muitas vezes não as entendo de bate-pronto, mas peço esclarecimento. Crianças, filhos ou até netos de amigos(as) são ótimos(as) conselheiros(as) para isso. Resposta na ponta da língua. E sempre aprendo mais uma.
Esta semana, foi Mônica que me ensinou o ”lascar essa” para “Putz”. Adorei. Fato é que nunca saberemos tudo o que pode comportar uma palavra, ainda mais em regiões diferentes, países distintos, com pessoas diversas e culturas independentes. Mesmo se tratando de pessoas conhecidas, amigas, que tem a mesma língua materna, a Língua Portuguesa, criadas no mesmo interior do Estado de São Paulo (em Bauru e em Santo Anastácio e Presidente Prudente). E que agora moram em países irmãos, pois Portugal inaugurou o Brasil na fala e escrita em Língua Portuguesa. Mas tudo adquire nuance própria, adaptada.
É uma riqueza essa mobilidade da fala. E o registro dos usos da língua falada na escrita. Isso “a mi me encanta”, como se diz em espanhol. Como é rica e linda essa nossa Língua Portuguesa. E como precisamos ficar atentos para aprender a todo instante.
Em casa, planejo parafusar rodinhas nos móveis fixos mais pesados (como estantes de livros e balcão), mas a Língua Portuguesa sempre teve rodinhas, asas, turbinas, túnel do tempo. Esta sim viaja na velocidade da luz, a cada nova utilização de uma sua palavrinha, ou expressão, ou gíria.
As palavras, neutras por definição, ganham nova vida a cada uso, no discurso. Isso é apaixonante. E nada é definitivo na linguag



em, como também não o é no pensamento e na vida. O significado é vivo, pois está nos olhos de quem vê(lê) qualquer discurso. Como a fala, que tagarela o tempo todo e tem pele viçosa por isso.
Pegar um significado no ar, no meio dessa viagem constante da língua, para usar aqui e agora no nosso escrito (porque não sou isolada do social, do coletivo, do cultural), é uma brincadeira das que mais gosto.
Putz, escrevi um montão de novo!”


* * *

Só para ilustrar, volto ao tema de início e deixo links e significados para a palavra “putz”, ou “putz grila”:

- Putz tem vários significados, mas acho que o de Coimbra -Portugal cabe na gíria, quer dizer: aprendiz, jovem iniciado. 
Grila vem de grilo :indivíduo chato, maçador. Juntando Putz + Grila = cara chato. https://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20081207095223AA6kFfe
- O que é Putz:
Putz é uma palavra da gíria brasileira popularmente utilizada como interjeição com o significado de espanto ou susto. A palavra putz é uma forma de suprimir um grosseiro palavrão, um popular calão pesado e ofensivo à mãe, mal visto socialmente e, como tal, não é bem acolhido por quem o ouve. Contrariamente ao calão que lhe deu origem, putz é uma expressão que não tem nenhuma conotação pesada ou de apreciação negativa.
Putz é uma palavra da gíria brasileira popularmente utilizada como interjeição com o significado de espanto ou susto. A palavra putz é uma forma de suprimir um grosseiro palavrão, um popular calão pesado e ofensivo à mãe, mal visto socialmente e, como tal, não é bem acolhido por quem o ouve. Contrariamente ao calão que lhe deu origem, putz é uma expressão que não tem nenhuma conotação pesada ou de apreciação negativa.
São diversas as situações nas quais se usa a interjeição putz. Além de espanto ou susto, também exprime impaciência ou desapontamento. As frases abaixo podem exemplificar o uso da interjeição:
“Putz, nem me diga!”
“Putz, o computador travou de novo!”
“Putz, perdi o ônibus!”
http://www.significados.com.br/putz/

- Putz grila: outra gíria das antigas do Rio (assim como falar "das antigas"), para substituir o palavrão de origem e fazer o carioca parecer mais educado. Usualmente, sintetizada simplesmente em "putz", ou, na forma mais anasalada, "pâtz", sempre com reticências depois. Serve para qualquer coisa desagradável, mas não muito, que aconteça.
Blog do Jorge - Desvarios, agruras e insanidades de um jornalista
http://www.blogdojorge.com.br/2012/07/dicionario-rio-x-sao-paulo-de-girias-e_9.html

- Putz ou Putz grila: Interjeição que indica surpresa, espanto diante de alguma coisa.Muitas vezes, apenas o fato de ouvir alguém pronunciar “Putz!”, denota que aconteceu algo inesperado, que causou espanto ou surpresa.

http://minilua.com/girias-diferentes-regioes/ 


Saturday, July 19, 2014

O PIUIII DA MINHA MEMÓRIA




Viajei de trem, com meus pais, de Santo Anastácio a São Paulo. Adorei os bancos de madeira, a cama do vagão leito, o barulhinho que embalava o sono e o café da manhã. Mas isso ficou na minha memória, pois as viagens de trens de passageiros quase não existem mais, no nosso Estado de São Paulo.
Décadas depois, e já formada pela PUC em Jornalismo, tive a oportunidade de conhecer o Festival de Inverno de Paranapiacaba, antiga vila de ferroviários ingleses da São Paulo Railway, quando trabalhava como jornalista contratada da Refinaria de Capuava (RECAP) da Petrobras, em Mauá – SP, logo depois de Santo André, e antes de Rio Grande da Serra, no caminho de Paranapiacaba. A vila fica no limite da Serra do Mar, no alto, pouco antes da descida para Santos.
Em 2014, adoraria voltar ao Festival de Inverno de Paranapiacaba por trem, saindo de Presidente Prudente. Mas isso não é mais possível. Perdeu o nosso Estado de São Paulo, perderam paulistas, perdeu o Brasil. Espero que o transporte ferroviário volte à ativa e com a força e cuidado que merece, por conta da sua imensa potencialidade.
Na Suíça, no Japão, nos Estados Unidos e em tantos outros países, a ferrovia é estratégica para negócios e pessoas. Pequenos roteiros, ou grandes viagens (“coast to coast”, como se diz na América, por exemplo) acontecem todos os dias.
E nós estamos parados, toneladas de soja e produção recorde de grãos só podem chegar aos portos pelas rodovias. Atravessar o Brasil, de Mato Grosso ao porto de Santos, por exemplo, é impraticável. Nosso país é grande demais, as distâncias são continentais e o caminho seria mais curto, ou pelo menos mais barato, se fosse feito por hidrovias e ferrovias.
O represamento de rios, como o meu conhecido “Paranazão” (como é chamado aqui na região de Prudente o Rio Paraná), lá em Presidente Epitácio (ou “Porto” Epitácio), não se justificou com a implantação de um sistema eficaz de transporte. Vez em quando, num domingo, é possível almoçar numa embarcação, um navio, que passa pela cidade e faz um trajeto até o meio da tarde. E é só isso, além do turismo de pesca.
Como eu queria ver, ainda nesta vida, os trens apitando de longe, o movimento nas plataformas das estações que viraram de tudo – tem museu, em Santo Anastácio; e posto do Procon em Prudente, só para ilustrar o argumento. 
Ver navios, embarcações de tamanhos e formas diferentes, servindo às cargas e às pessoas. Opções de turismo para todos(as) que quisessem conhecer melhor o nosso Estado de São Paulo.
Mais alternativas de transporte, para que as pessoas tivessem mais escolhas, preços variados, serviços mais seguros e mais baratos.
Eu adoraria ver isso, mas não acredito que possa acontecer na minha geração. Nem sei se meus sobrinhos, João Vitor e Vitória Emanuelle, poderão conhecer trens e navios de transporte em seu próprio estado, em seu País.
Por isso, esse meu sonho tem um tom melancólico, de desesperança, que em nada me agrada. Mas é real.
Em 2014, no fim de semana de início do Festival de Paranapiacaba, no meu estado, evento do qual me recordo com saudades, não posso optar em visitar a Vila de Paranapiacaba de trem, partindo de Presidente Prudente.
Não há mais trem.
Só resta a minha memória  e este texto baseado em lembranças e emoções.
Sumiu no tempo aquele som de Piuiii.......