Desenho animado como A
Era do Gelo 2 é sempre bom. Domingo de manhã e na companhia de
crianças queridas então, nem se fala. Porque quando a Camila e o Lelê souberam
que o diretor do filme (Carlos
Saldanha) é brasileiro, arregalaram os olhos. Era só a primeira
surpresa boa do dia. As cadeironas da sala UCI do Shopping Anália Franco nos
abraçam aos quatro. Só faltava uma coisa, que o Leco foi buscar. O tempo
certinho do trailer. E o filme começa, depois que o baldão de pipoca estaciona
no colo do Lelê.
No primeiro instante em que o Scrat aparece hipnotizado pela noz redondinha de casca marrom, Lelê e todos nós ficamos hipnotizados pelo bichinho que não fala, meio esquilo, meio rato, de focinho compriiido, dentinhos e olhos salientes. Enquanto o menino equilibra os olhos azuis entre o balde de pipoca, o canudinho dentro do copão de refrigerante e o filme, o esquilinho só via o brilho da avelã, alheio aos perigos que o cercam, em plena Era do Gelo 2. Da enorme montanha de gelo, desafia a gravidade. Pensa que é alpinista e, cheio de vontade, se esquece de que é menor do que aquela noz. Quando finalmente tenta enterrar a prenda no branco gelado, uma rachadura causa um vazamento de água que “cospe” a noz longe. Junto com ela, o esquilo Scrat mergulha lá de cima da geleira. No gelo, na água, na terra ou até no ar, Scrat nunca desiste do seu alimento favorito.
O sofrimento do personagem Scrat, criado por Carlos Saldanha no A Era do Gelo, quando ele foi co-diretor ao lado do seu professor Chris Wedge, é a melhor coisa do A Era do Gelo 2. Cada detalhe da labuta do bichinho atrás do alimento que esquentará o seu frio vale uma lição de vida, que sempre acaba em boa risada. Não sei quem riu mais, se os pequenos (Camila e Lelê) ou os adultos (Leco e eu). O sucesso do Scrat é tão merecido que ele já estrelou também o curta-metragem Gone Nutty, produzido por Saldanha entre A Era do Gelo 1 e 2 e que fôra indicado ao Oscar. Pelo andar da carruagem, e ainda mais agora que as duas filhas do diretor ajudam na dublagem de personagens – como ocorreu em A Era do Gelo 2 -, podemos esperar mais belas produções por aí. E mais sucesso ao Saldanha e aos personagens aos quais ele dá vida, quase brincando.
Enquanto isso, o filme mostra os outros personagens a se divertir, lá embaixo, no vale depois do abismo de gelo, no acampamento da preguiça tagarela Sid – uma espécie de parque aquático gelado pré-histórico para “crianças”, ou filhotes. Os amigos dele o ajudam como podem. O mamute Manfred (ou Manny, como abreviou Sid, desde o primeiro filme) conta histórias para a molecada, que sempre muda o final e faz um monta de pergunta. O tigre de bengala Diego perde a paciência e acaba de vez com a história. Sid, Diego e Manny suam a camisa para atender os pequenos fregueses. Tudo parece bem, quando o urubu anuncia que o vale será inundado como uma tigela que ficará cheia. E é mesmo, porque quando Scrat cai porque o gelo da montanha está fininho. Aquele paredão branco suporta um imenso lago lá no topo, mas tudo está derretendo e rápido. Nem parece era do gelo, parece hoje, com o aquecimento global, o efeito estufa e o derretimento do gelo dos pólos Sul e Norte.
O diretor Carlos Saldanha disse, em entrevista à tevê Record, que A Era do Gelo 2 fala de degelo e do esforço de animais que precisam salvar as suas vidas e se ajudar, para superar os perigos de uma grande inundação. Os quatro anos que se passaram, desde o A Era do Gelo, permitiram evolução no trabalho de animação, segundo Saldanha, sobretudo graças aos softwares que permitem exibir animais/personagens com pêlos e uma textura melhor definida da própria água. O interessante, na equipe, é que cada um trabalha um elemento, como só cabelo, só o movimento dos olhos. Quando isso tudo é unido, no filme, o resultado é bárbaro. Ao explicar o quê faz um diretor de animação, Saldanha diz que é “meio mímico”, porque atua em duas frentes: com os atores e o trabalho das vozes; e na atuação com o roteiro.
A água que era diversão, no acampamento do Sid, fica muito perigosa quando o degelo liberta seres congelados, predadores que perseguem todo mundo, à espera da próxima vítima. Assim acaba a carreira de empresário de Sid. Com os amigos Diego e Manny, sai numa longa caminhada para fora do vale gelado, antes que o paredão de gelo se rompa e toda aquela água represada encha a baixada, como disse o urubu. Enquanto os animais fogem, os urubus espreitam, felizes da vida com a possibilidade de ter carniça farta se muitos morrerem afogados. Manny caminha triste e preocupado, porque pensa que é o último mamute vivo, que está em extinção. Todos os outros o tratam como figura exótica, ou pé-na-cova. O tigre Diego também fica preocupado. Sente medo do grande volume de água prestes a chegar porque não sabe nadar. De uma hora para outra, sente que pode passar de caçador à presa. Por incrível que pareça, é Sid quem o ensina como mexer as patas debaixo d’água, ainda em terra firme.
Preguiça gigante, tigre-de-dente-de-sabre, mamute e esquilo-rato pré-históricos estão extintos. Vale a pena pesquisar e saber um pouco mais sobre esses animais, descobrir se todos existiram mesmo e se há algum fruto da ficção, da criatividade de criança que os profissionais da animação conseguem, como poucos, manter viva dentro de si.
Chegam à uma floresta, onde Diego tenta caçar dois gambás (Crash e Eddie) para matar a fome. Mas eles se escondem em buracos no chão e são mais ágeis. Sid tenta ajudar, mas os gambás os fazem de bobos, até que a irmã deles (Ellie) aparece. Ela pensa que é gambá também e até dorme de cabeça para baixo como os irmãos, apesar de ter nove toneladas, pouco menos do que o Manny. Lá no vale, Scrat continua a perseguir a noz. Enfrenta piranhas com a coragem de um ninja. Não desiste e nem liga para o vazio à sua volta. Todos fogem do perigo, só ele que fica, não abandona aquela noz de jeito nenhum. Para dormir na mata, Sid faz fogo esfregando duas pedrinhas. Não se esqueceu desta habilidade, desde o primeiro filme. Por isso, é seqüestrado por mini-preguiças, que o chamam de rei do fogo. No território desses bichinhos, a lava que vem do chão está mais quente e derrete o gelo. Por isso, as preguiças querem que Sid controle o fogo, mas ele não pode. Nesta hora, as preguicinhas encenam o melhor momento musical do filme. Quando imitam o Sid, começam a cantar, fazem um coro muito engraçado e a animação vira uma dança animadíssima. A trilha sonora que nasce dessa brincadeira é deliciosa.
Quando os animais do filme conseguem se salvar da grande inundação no vale onde moravam, uma grande manada de mamutes aparece. Manny e Ellie descobrem que não estão sozinhos. Depois de superarem tantos perigos, apaixonam-se. Por isso, o trio de amigos de A Era do Gelo (Manny, Sid e Diego) engorda um pouco no final de A Era do Gelo 2, porque Ellie e os irmãos gambás Crash e Eddie se juntam a eles. Começam nova jornada, em busca de um lar, quando Sid vê o esquilo Scrat à beira do rio, desmaiado e o salva do afogamento. Sem comida, o esquilinho fica muito bravo. E só Deus, ou o Carlos Saldanha, sabem onde isso pode parar.
Por enquanto, Camila, Lelê, Leco e eu agradecemos. Desenho animado no cinema, num domingo de nuvens carregadas, deixa qualquer um muito feliz.
09.04.2006
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